Geovana Pagel
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DĂ©bora Rubin e Geovana Pagel
SĂŁo Paulo – Para garantir o alto faturamento do setor – R$ 55,9 bilhĂ”es em 2005, as empresas que produzem mĂĄquinas e equipamentos precisam investir constantemente em modernização e inovação tecnolĂłgica. Isso significa tanto a compra de novo maquinĂĄrio atĂ© o investimento em centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Boa parte das grandes empresas, nacionais ou multinacionais, possui centros prĂłprios. JĂĄ as pequenas e mĂ©dias tendem a estabelecer parceria com instituiçÔes ou universidades em programas subsidiados pelo governo. Dos R$ 6,2 bilhĂ”es investidos pelo setor de mĂĄquinas em 2005, 36,9% foi para a modernização tecnolĂłgica. Nos trĂȘs anos anteriores, os investimentos foram da ordem de R$ 3 bilhĂ”es.
Dados do Instituto de Pesquisa EconĂŽmica Aplicada (Ipea), demonstram que inovar e gastar mais em P&D aumentam em 16% as chances de uma empresa ingressar no mercado internacional como exportadora, da mesma forma que ampliam o volume das vendas externas das empresas inovadoras. Em relação ao impacto social, diferentemente do conceito de que as inovaçÔes levam a demissĂ”es, existem evidĂȘncias de que as empresas que apostaram nessa tendĂȘncia contrataram mais do que a mĂ©dia da indĂșstria brasileira.
Segundo o presidente da Associação Brasileira da IndĂșstria de MĂĄquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, o desenvolvimento tecnolĂłgico Ă© contĂnuo nas fabricantes de bens de capital. "O salto registrado em 2005 Ă© um resultado direto das boas vendas dos anos anteriores. O investimento foi feito basicamente para aumentar a capacidade produtiva das empresas", diz. Ou seja, quanto mais vende, mais dinheiro tem para investir em tecnologia. Com mais tecnologia, se vende mais. Ă um ciclo.
No setor de mĂĄquinas-ferramenta, por exemplo, um dos mais avançados, boa parte dos fabricantes destinam 5% ou mais de seu faturamento em pesquisas de P&D. "Ă um setor que renova linhas completas em pouco tempo. Novos produtos – da concepção, projeto, protĂłtipos atĂ© a sua conclusĂŁo – sĂŁo lançados em meses", afirma AndrĂ© Romi, presidente da CĂąmara Setorial de MĂĄquinas-Ferramenta da Abimaq. Apesar dos investimentos, Romi acredita que uma grande transformação tecnolĂłgica ainda estĂĄ por vir. "Uma nova quebra de paradigmas poderĂĄ ser o avanço da nanotecnologia no campo das mĂĄquinas-ferramenta", afirma. SĂł que pesquisas nesse sentido ainda estĂŁo em fase inicial em poucos institutos internacionais.
Exemplo
As IndĂșstrias Romi, fabricantes de mĂĄquinas-ferramenta e injetoras de plĂĄstico, empresa da qual AndrĂ© Ă© gerente de relaçÔes institucionais, Ă© um exemplo de companhia nacional que investe pesado em inovação. Em 2005, foram mais de US$ 10 milhĂ”es investidos no departamento de P&D. O resultado disso sĂŁo 62 patentes concedidas no Brasil e no exterior e mais 24 pedidos em anĂĄlise.
A empresa possui um Centro de Tecnologia apenas para mĂĄquinas-ferramenta e um outro para as mĂĄquinas injetoras de plĂĄstico. Entre engenheiros, tĂ©cnicos e projetistas, atualmente 137 pessoas trabalham nos centros de P&D da empresa. AlĂ©m dos centros prĂłprios, ela mantĂ©m contratos de colaboração tecnolĂłgica com empresas estrangeiras como a alemĂŁ Emag Maschinenfabrik GmbH e a japonesa Kira Corporation. (Leia mais sobre as IndĂșstrias Romi na terceira reportagem da sĂ©rie, que serĂĄ publicada amanhĂŁ).
Colheitadeiras de Ășltima geração
As gigantes multinacionais tambĂ©m investem em laboratĂłrios dentro de suas subsidiĂĄrias brasileiras. A Massey Ferguson, do grupo americano AGCO, investiu US$ 4 milhĂ”es em seu Centro TecnolĂłgico em Canoas, no Rio Grande do Sul. Ali estĂŁo instaladas mais de 30 bancadas de teste de alta precisĂŁo – entre as quais, uma cĂąmara fria que permite testar o desempenho da mĂĄquina em condiçÔes climĂĄticas especiais, onde sĂŁo testados os produtos que sĂŁo exportados para paĂses frios.
"Todos os equipamentos projetados ou fornecidos são avaliados no centro, que reproduz operaçÔes de campo, de modo a obter resultados com mais rapidez e precisão de informaçÔes", afirma Luiz Ghiggi, diretor de engenharia e gerenciamento do produto Massey Ferguson.
Segundo ele, atualmente o Centro TecnolĂłgico conta com uma equipe de 15 profissionais altamente qualificados. A empresa, que exporta para mais de 80 paĂses, investe uma boa quantia em inovação. Em 2006, o investimento chegarĂĄ a US$ 12 milhĂ”es e a previsĂŁo para 2007 Ă© de US$ 18 milhĂ”es.
No setor agrĂcola, muitas empresas se modernizaram e cresceram devido Ă grande variedade de tipo de solo e clima que o Brasil possui. A indĂșstria brasileira teve que desenvolver tipos diferentes de mĂĄquinas e hoje pode exportar para qualquer paĂs.
A brasileira Marchesan S/A, que fica em MatĂŁo, no interior de SĂŁo Paulo, Ă© um exemplo dessa abrangĂȘncia. A empresa, criada em 1946 para fabricar veĂculos e implementos de tração animal, se transformou em uma das maiores do paĂs na ĂĄrea de mĂĄquinas agrĂcolas e exporta para cerca 50 paĂses. A fabricante investe entre 3 a 4% do faturamento lĂquido em tecnologia de produtos e 4% em tecnologia de equipamentos para produção.
A Marchesan possui um Centro de Tecnologia para desenvolvimento e testes de seus produtos, onde trabalham 40 pessoas. "Além dos testes realizados no centro tecnológico, nossos técnicos e engenheiros realizam junto aos agricultores no campo em diversas regiÔes e diferentes tipos de solo, acompanhamentos de trabalho elaborando gråficos e desgastes de componentes", explica Francisco Matturro, diretor comercial da Marchesan.
Na avaliação de Matturro, o investimento em tecnologia Ă© de grande importĂąncia, nĂŁo sĂł em produtos como tambĂ©m em equipamentos para a produção, como por exemplo a automatização da linha de montagem de componentes. "O mercado competitivo exige sempre investimentos tecnolĂłgicos, pois isso significa ganhos em vĂĄrios setores, na indĂșstria, na produção agrĂcola e nos preços finais ao consumidor", diz.
Usinas tipo exportação
Outra grande companhia que aposta na tecnologia Ă© a nacional Dedini IndĂșstrias de Base. Nos Ășltimos dez anos, a fabricante de equipamentos para usinas de açĂșcar e ĂĄlcool tem investido cerca de 3% a 8% de sua receita em inovação. "No ano passado, dos R$ 19 milhĂ”es investidos em produção, R$ 15,8 milhĂ”es foram para a modernização de equipamentos fabris e R$ 3,2 milhĂ”es para o desenvolvimento de novos produtos, produtividade e tecnologia da informação", explica FĂĄbio Malerba, analista de desenvolvimento da Dedini.
A companhia jĂĄ exportou 23 plantas completas de produção de ĂĄlcool. Venezuela, Equador, Argentina e MĂ©xico foram alguns dos compradores. "Entre as Ășltimas vendas externas podemos destacar o tandem (conjunto) de moendas de maior capacidade do mundo, para processar 28 mil toneladas de cana por dia, exportado para a U.S. Sugar Corporation, localizada em Clewiston, na FlĂłrida", diz Malerba.
Para ser ter uma idĂ©ia do tamanho da empresa brasileira, cerca de 60% de toda a infra-estrutura de usinas de açĂșcar e ĂĄlcool do Brasil foi construĂda pela Dedini, que atua tambĂ©m em outros segmentos como cervejaria, mineração, cimento e fertilizantes.
Leia no link abaixo sobre os programas de incentivo à produção tecnológica de pequenas e médias empresas.