Alexandre Rocha
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Alexandre Rocha
SĂŁo Paulo – O assessor de assuntos internacionais da PresidĂȘncia da RepĂșblica, Marco AurĂ©lio Garcia, disse nesta segunda-feira (13) Ă noite, durante palestra na biblioteca municipal MĂĄrio de Andrade, em SĂŁo Paulo, que a polĂtica externa do governo do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva tem como base um "projeto nacional de desenvolvimento".
Neste sentido, de acordo com ele, se insere a criação de uma "nova geografia comercial do mundo", que o presidente Lula prega constantemente e que consiste no aprofundamento das relaçÔes sul-sul, ou seja, entre os paĂses em desenvolvimento, e em dar maior equilĂbrio Ă s relaçÔes comerciais internacionais.
"E isso nĂŁo estĂĄ sendo feito em detrimento de nossas relaçÔes com os Estados Unidos, UniĂŁo EuropĂ©ia e o JapĂŁo. AliĂĄs, o JapĂŁo estava afastado do Brasil hĂĄ mais de uma dĂ©cada e agora busca se aproximar", afirmou Garcia, que Ă© um dos principais estrategistas da polĂtica externa do governo Lula.
Como exemplo, ele citou o aumento do comĂ©rcio entre o Brasil e os paĂses ĂĄrabes, apĂłs a visita que Lula fez a cinco paĂses da regiĂŁo em dezembro de 2003. "Achamos que seria importante abrir um espaço de discussĂŁo polĂtica, e tambĂ©m no que diz respeito a essa nova geografia comercial, e tĂȘ-los como parceiros", disse.
De acordo com o professor, a visita presidencial e a convocação da reuniĂŁo de cĂșpula dos chefes de estado ĂĄrabes e sul-americanos, que serĂĄ realizada no Brasil em maio de 2005, teve um papel "muito" importante no aumento das relaçÔes comerciais entre o Brasil e o mundo ĂĄrabe.
"O comércio tem aumentado muito e a cooperação econÎmica pode crescer também", disse. Para ele, os årabes que aplicam seu capital na Europa, por exemplo, podem também investir no Brasil.
Nesse contexto tambĂ©m se insere a maior aproximação do Brasil com os paĂses da Ăfrica e da Ăsia. Durante a reuniĂŁo de cĂșpula do Mercosul, que ocorre esta semana em Belo Horizonte e Ouro Preto, em Minas Gerais, o bloco sul-americano deverĂĄ assinar um acordo de preferĂȘncias tarifĂĄrias com a UniĂŁo Aduaneira do Sul da Ăfrica.
Um acordo semelhante deve ser assinado tambĂ©m com a Ăndia. O Brasil vem promovendo tambĂ©m uma maior aproximação com os demais paĂses de lĂngua portuguesa.
AçÔes
A governo, de acordo com Garcia, trabalha com quatro "grandes iniciativas" de polĂtica externa nas ĂĄreas de economia e finanças, comercial, social e polĂtica. No primeiro segmento, o Brasil tenta promover a participação de organismos internacionais, especialmente do Fundo MonetĂĄrio Internacional (FMI), na criação de um "seguro" para economias emergentes, alĂ©m de pleitear, junto ao FMI, a retirada dos investimentos em infra-estrutura como gastos do cĂĄlculo do superĂĄvit primĂĄrio, utilizado no pagamento da dĂvida externa.
Na seara comercial, alĂ©m de ampliar o comĂ©rcio sul-sul, o paĂs tem atuado fortemente das negociaçÔes da Organização Mundial do ComĂ©rcio (OMC), sendo um dos articuladores do G-20, grupo de paĂses em desenvolvimento que luta contra os subsĂdios concedidos pelos paĂses ricos na ĂĄrea agrĂcola. Recentemente o Brasil, junto com outros paĂses, conseguiu duas grandes vitĂłrias na OMC: a condenação dos subsĂdios concedidos pela UniĂŁo EuropĂ©ia aos seus produtores de açĂșcar; e a condenação dos subsĂdios dos EUA aos seus agricultores de algodĂŁo.
"Os paĂses desenvolvidos tĂȘm um discurso a favor do livre comĂ©rcio, mas na prĂĄtica sĂŁo contra porque se utilizam de medidas protecionistas muitas vezes veladas", afirmou Garcia.
Na ĂĄrea social, Lula propĂŽs a criação de um fundo internacional de combate Ă fome e Ă pobreza e reuniu em setembro, durante a AssemblĂ©ia Geral da Organização das NaçÔes Unidas (ONU) em Nova York, 65 chefes do estado para tratar do assunto. Segundo Garcia, 130 paĂses jĂĄ apĂłiam a iniciativa e a idĂ©ia Ă© ter um projeto pronto atĂ© setembro de 2005, quando a ONU vai completar 60 anos.
Na seara polĂtica, o Brasil prega a reforma da ONU, principalmente de seu Conselho de Segurança, uma vez que o ĂłrgĂŁo ainda hoje reflete a realidade geopolĂtica da Ă©poca de sua criação, apĂłs a 2ÂȘ Guerra Mundial. Brasil, Alemanha e JapĂŁo sĂŁo alguns dos paĂses que pleiteiam um assento permanente no conselho.
Eixos
Estas iniciativas, segundo Garcia, foram tomadas com base em "seis eixos" que o governo considera necessĂĄrios para um plano nacional de desenvolvimento: um novo perĂodo de crescimento econĂŽmico, para que o paĂs possa fazer frente ao seu dĂ©ficit social, e a atração de investimentos para setores que ficaram "paralisados" nos Ășltimos anos, como o de infra-estrutura; a distribuição de renda; o equilĂbrio macroeconĂŽmico; a diminuição da vulnerabilidade externa; o aprofundamento da democracia; e o desenvolvimento tambĂ©m dos paĂses vizinhos da AmĂ©rica do Sul.
No que diz respeito ao Ășltimo item, Garcia disse que o governo tem dado especial atenção ao fortalecimento do Mercosul, que reĂșne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e Ă integração da AmĂ©rica do Sul como um todo. Como exemplo, ele citou investimentos conjuntos de US$ 1 bilhĂŁo que estĂŁo sendo feitos em infra-estrutura na Venezuela; de US$ 400 milhĂ”es em hidrelĂ©tricas no Equador; de US$ 800 milhĂ”es na construção de uma rodovia para ligar o Acre ao PacĂfico pelo Peru; e de US$ 2 bilhĂ”es da Petrobras na Argentina.